quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MANIFesta Jovem

“Economias social e solidária são plataformas desafiadoras para o empreendedorismo inclusivo e social da Juventude portuguesa”

A MANIFesta – Assembleia, Feira e Festa do Desenvolvimento Local teve a sua primeira edição há 15 anos, em Portugal, tendo sido organizada pela Animar - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local e por entidades parceiras locais.
Passados estes anos, surgiu a necessidade de reformular e reajustar a MANIFesta, colocando-a em sintonia com as mudanças económicas e sociais dos nossos tempos e com as tarefas da afirmação da economia social e solidária e do desenvolvimento local.
Surgiu assim, a ideia da MANIFesta’10 – descentralizada e repartida por quatro momentos e temas. Foi Viana do Castelo que acolheu o primeiro momento desta Assembleia, Feira e Festa do Desenvolvimento Local. O “Empreendedorismo Jovem e Economia Social” foi o tema que abrigou a MANIFesta Jovem, que decorreu na Escola EB 2,3/S, sede do Agrupamento de Arga e Lima, em Lanheses, nos dias 30 e 31 de Outubro. Esta iniciativa foi promovida pela Animar, ao abrigo do acordo de cooperação IEFP/ANIMAR, tendo assumido a Associação Juvenil de Deão – AJD o papel de dinamizadora local, contando com a colaboração de um conjunto de entidades parceiras (ADLML, Federação das Associações Juvenis do Distrito de Viana do Castelo, Câmara Municipal de Viana do Castelo, Federação Nacional das Associações Juvenis, Agrupamento de Escolas de Arga e Lima, Junta de Freguesia de Deão, Instituto Português da Juventude).
Perante as exigências de mercado e a incapacidade do Estado de impulsionar o emprego juvenil, cresceram as situações de desemprego, precariedade e de flexibilidade descontrolada. A MANIFesta Jovem foi um momento privilegiado de discussão de diversas inquietações que invadem o quotidiano juvenil. Nesta iniciativa, destacamos o papel dinâmico, responsável e solidário da Juventude, percebendo a importância da participação e decisão sobre o devir colectivo. Expomos, também, o associativismo juvenil de base local como um agente importante na inclusão social e na promoção da iniciativa e capacidade empreendedora da juventude, sendo um local onde se reúnem com o intuito de procurar respostas para os seus problemas.

Reunimos em Lanheses, nesta MANIFesta Jovem, com três aspirações centrais:
1- Promover a participação de jovens e do movimento associativo numa discussão e reflexão alargada sobre as realidades e as principais problemáticas da população juvenil e da sua importância como actor estratégico de desenvolvimento do local;
2- Conhecer e dar a conhecer a rede ANIMAR Juvenil – inventariando as práticas e dinâmicas juvenis da rede no âmbito do empreendedorismo social e outras que contribuam para o processo;
3- Dinamizar contactos e iniciativas conjuntas que contribuam para a organização de uma rede juvenil de empreendedorismo social e desenvolvimento local num processo de animação territorial.

Apesar das mudanças que a nossa sociedade atravessa e face ao cenário que envolve a Juventude nos dias de hoje, esta assume um papel decisivo e activo na construção do seu futuro. Ouvimos frequentemente que uma das características da Juventude é o seu fraco envolvimento em lógicas de participação convencionais. Todavia, constatamos, em espaços de intervenção como a MANIFesta Jovem, que este facto é acompanhado por uma procura de novos espaços de acção política externos aos institucionalmente propostos.
Neste sentido, nos diversos painéis que sustentaram a MANIFesta Jovem (Painel 1 – Economia Social e Solidária: sua importância na sociedade actual; Painel 2 – Empreendedorismo Jovem Inclusivo: forma de combate ao desemprego; Painel 3 – Que possibilidades de financiamento existem para o empreendedorismo jovem?), juntamente com a equipa que os moderou e animou, os/as participantes:
- Constataram que os projectos da economia social e solidária podem desafiar pessoas e grupos para novos tipos de intervenções sócio-económicas;
- Constataram que a economia social é importante para criar, partilhar e desenvolver novas visões do mundo;
- Constataram que existe a inclusão de novos agentes, muitos dos quais provenientes de meios excluídos, na economia social;
- Referiram que Portugal é o único país da U.E. que não implementou a legislação específica do comércio justo;
- Questionaram-se sobre o facto de no comércio justo não existir nenhum(a) cliente da economia social;
- Lançaram um conjunto de desafios, nomeadamente, motivar as pessoas a consumirem produtos locais, desafiar as organizações a consumirem produtos locais/produtos com qualidade, promover economias de proximidade (conhecer os serviços que cada organização da economia social pode oferecer), promover circuitos-custos, promover uma mudança no que diz respeito aos padrões de consumo;
- Mencionaram que cada vez mais vamos caminhar para uma economia focalizada na solidariedade, criando riqueza e completando a estrutura económica da sociedade actual;
- Evocaram que o empreendedorismo é criatividade, inovação, procura, ideia, projecto, solução de problemas, oportunidades, acção, pro-actividade, saber lidar com a liderança, aventura, cultura de exigência;
- Mencionaram que para ser empreendedor(a) é necessário arriscar;
- Mencionaram que uma pessoa empreendedora tem que se auto-regular, tem que se impor, esforçar-se para ser cumpridora;
- Referiram que ter uma empresa é movimento, dedicação e esforço;
- Constataram que a pessoa empreendedora deixa de ser autómata e passa a ser autónoma;
- Consideraram que é difícil a pro-actividade exigida à pessoa empreendedora;
- Consideraram que “paixão” e empreendedorismo são dois conceitos que funcionam em uníssono no empreendedorismo;
- Assumem que as pessoas devem potenciar as suas “paixões” e não ficarem acomodadas;
- Verificaram que existe uma relação entre empreendedorismo e emprego: ao criar um negócio cria-se emprego e existe uma oportunidade para experimentar o mundo do trabalho;
- Constataram que a tradição familiar é importante no empreendedorismo;
- Referiram que para o empreededorismo é necessário trabalhar em rede;
- Pretendem que a genuína ideia do empreendedorismo prevaleça, deixando de associar ao empreendedorismo a procura de financiamento. Contudo, mencionaram que muitas vezes os apoios podem servir para ver a viabilidade dos projectos;
- Mencionaram que os apoios ao empreendedorismo que existem não são eficazes, obrigando na maioria das vezes a contrair dívidas;
- Propõem à futura pessoa empreendedora realizar uma avaliação do risco, ou seja, saber o que o mercado necessita.
Concluindo, será de todo relevante salientar que o âmago conclusivo da MANIFesta Jovem foi que a inter/intra-relação e ajuda na conjuntura actual é a chave para o sucesso. Seja dentro do âmbito empresarial ou das organizações da economia social, a partilha de competências e ferramentas poderá combater os problemas sócio-económicos que vivemos na actualidade e torna-se possível a concretização de objectivos sem a espera de ajudas económicas ou de melhores conjunturas para “dar o passo”. Coloca-se a mítica alocução de John F. Kennedy: “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta o que podes fazer pelo teu país”.
Sendo a necessidade actual o virar para o outro e perceber as suas competências, podendo dessa base interligar ou unir forças para que se possa dessa forma ser, como se referiu anteriormente, proactivo no concretizar e ao mesmo tempo ser autónomo. É não só a conjuntura actual que nos faz tecer estas conclusões, mas também a constatação de que independentemente da situação económica, esta é uma alternativa perene.

Vivemos em cidadania plena quando nos esforçamos por melhorar a comunidade onde estamos inseridos(as), impulsionados(as) pela paixão.

Por tudo isto, a MANIFesta Jovem marcou a diferença! Juntou experiências e pessoas, instituições, associações e grupos de jovens, com vontades e necessidades para a revitalização de muitos territórios e para conhecer e intervir em novas formas de empreendedorismo inclusivo, social e solidário. A preocupação, o interesse, a confiança foram algumas das características deixadas pelos(as) participantes em diversos testemunhos nos espaços que envolveram esta iniciativa.
Em jeito de conclusão, e citando Eugénio de Andrade, evidenciamos a vitalidade da juventude!

“Sim, eu conheço, eu amo ainda
Esse rumor abrindo, luz molhada,
Rosa branca. Não, não é solidão,
Nem frio, nem boca aprisionada.
Não é pedra nem espessura.
É Juventude. Juventude ou claridade.
É um azul puríssimo, propagado,
Isento de peso e crueldade!”

Manifesto de Lanheses
31 de Outubro de 2010
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